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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Bicho papão

A pequena menina sempre tivera olhos brilhantes e verdes. Seus pés sempre pisaram nus o árido e frio chão. Os bichos papões jamais a tocaram por debaixo de sua cama. Todavia, enquanto seus olhos embaçavam podia ver os contornos de seus desenhos feitos na parede. Obra de arte típica de uma criança de seis anos. A chuva caía lá fora no mesmo ritmo de suas lágrimas O ambiente todo era proposto para um adulto e seus murmúrios em forma de lápis na parede eram seu refúgio na busca de abrigo da infância. Seu coração palpitava desesperadamente e seus ouvidos já não suportavam aquele mal estar. E naquela noite, assim como muitas outras, seu assombro e sua tristeza eram devidos aos seus bichos papões interiores transfigurados na voz embriagada e exaltada daquele a quem ela chamava de herói.

Sara Pautz

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